Muitos
dirão que o título deste texto é catastrofista, típico de um “Velho do Restelo”
ou de qualquer outro profeta da desgraça. E também que o país dispensa,
sobretudo nesta altura, qualquer dose de pessimismo.
Claro
que se pode alegar que Portugal tendo mais de 800 anos de História já enfrentou
inúmeras dificuldades tendo-as sempre superado. Também se pode mencionar que com
esta já é a 3ª vez que somos resgatados após o 25 de Abril e mesmo assim ainda
estamos por cá. Também se pode referir que da adversidade nasce o engenho e o
País conseguirá por isso renascer das “cinzas”, qual fénix, ainda mais forte. Todos
estes argumentos são válidos mas as circunstâncias actuais estão inseridas num
contexto totalmente diferente. Hoje o Mundo é outro. A Economia está globalizada
e o país já não dispõe de certos mecanismos de intervenção nesta.
O
que os cidadãos esperam dos seus líderes políticos, sejam estes eleitos ou não,
é que os seus problemas sejam resolvidos e que lhes seja proporcionado qualidade
de vida e bem-estar. Se olharmos para os resultados dos estudos sobre a
qualidade da democracia e para os crescentes níveis de abstenção, concluímos
que não estamos no caminho certo, pois não? Não deixa de ser curioso que em dia
de eleições quando confrontados com os níveis de abstencionismo, os políticos
manifestem a sua preocupação no que eu considero um exercício da mais pura
hipocrisia. No dia seguinte voltam ao mesmo pois o que interessa é manter o
“status quo”.
Satisfação com a Qualidade da Democracia em Portugal |
Fala-se
muito contra a Troika, mas se não fosse esta, jamais seriam efectuadas certas
reformas estruturais essenciais ao País. Não deixa de ser estranho que muitas
ainda não tenham passado do papel e outras ainda se desconhece o seu grau de
concretização. E isto apesar de constarem no memorando. Que fará se lá não
estivessem? Já percebeu o porquê da relutância em avançar com tais reformas?
Ainda acredita que o sistema serve e defende o interesse público?
Portugal
vive há 38 anos em pseudo-democracia. Digo “pseudo” porque o actual
sistema é partidocrático e é, a meu ver, o principal responsável pela situação
gravíssima que vivemos. Não deixa de ser um paradoxo que as eleições mais
importantes para o País, as Legislativas, são as menos democráticas. Vota-se no
principal rosto de um logotipo partidário com a agravante de por arrasto se
estar a eleger para deputado certos seres “asquerosos”. Se o voto fosse nominal
muitos deles jamais seriam eleitos. Por outro lado as eleições mais
democráticas, as Presidenciais, são justamente para o cargo mais inútil do
País. Isto até gera uma certa revolta porque os eleitores ao serem chamados
pensam que algo aí poderá mudar nas suas vidas. Geram-se assim expectativas que
depois são defraudadas. O pior é o esbanjamento de dinheiro nessa eleição. Se
esta fosse feita ao nível do Parlamento, como em Itália ou na Alemanha, não se
gastaria tempo nem dinheiro em campanhas. Alguns poderão argumentar que nesses
países os regimes são parlamentares e em Portugal temos o Semi-Presidencialismo.
Mas alguém acredita nisso? França também o tem. E aí vê-se bem as diferenças. O
nosso regime é na prática Parlamentar mas para mim é mais Par(a)lamentar.
Não
estamos assim devido aos desvarios de um qualquer ditador ou de um tecnocrata.
Estamos prestes a implodir por causa dos actuais partidos políticos e do
sistema que os suporta. E aqui incluo todos os partidos com assento
parlamentar. Mesmo os da “eterna” oposição têm culpas pela situação a que
chegamos. Sempre se bateram, directa ou indirectamente através da via sindical,
por políticas conducentes ao aumento da despesa sem cuidar das respectivas
contrapartidas. É o preço a pagar pela demagogia e pelo populismo. E os sucessivos
Governos cederam, sobretudo em ano de eleições, onde as Greves podem sempre
fazer mossa nas sondagens. Os Portugueses são chamados a eleições legislativas
no máximo de 4 em 4 anos, no que eu classifico de teatrinho para as “massas”.
Na prática quem (ainda) vota não se apercebe que está a ser alvo de um
embuste. Ao votar está apenas a dar um cheque em branco e pouco mais. É certo
que muita gente vota não tanto para eleger um novo Governo mas mais para
expulsar o que lá está. Mas a Democracia não deve resumir-se a isto, pois não?
A
classe política demonstrou bem a sua incapacidade e incompetência ao longo destes
38 anos de pseudo-democracia pois já é a 3ª vez que Portugal é “resgatado”.
Isto apenas evidencia a fraca qualidade da classe dirigente que cada vez é
pior. A mediocridade impera nos actuais políticos, cada vez mais oriundos das
“jotas”, imberbes e sem qualquer currículo ou experiencia de vida. O sistema
afasta o mérito e premeia a incompetência. Como se isto não bastasse, permite a
criação de políticos “invertebrados”, sem ética e sentido de responsabilidade,
capazes de se esgueirarem com facilidade nos caminhos estreitos da opacidade e
da mentira. Vivem da política e não para a política. Citando Woody Allen
"a vocação do político de carreira é fazer de cada solução um
problema." É incrível como se permite a manutenção de políticos e de partidos
que tanto fizeram mal a este país quando deveriam ser simplesmente irradiados
do espectro político. O pior é que continuam aí a intervir como se nada fosse
com eles. Realmente, alguns têm mesmo a memória curta.
Foi
este sistema que implementou uma lei fundamental, isto é, a Constituição da
República Portuguesa, que não é mais que um conjunto de banalidades para
permitir as mais diversas interpretações de acordo com as conveniências do
momento. Basta ver a quantidade de casos em que os próprios Constitucionalistas
divergem. A propósito da inconstitucionalidade de algumas das medidas inscritas
no Orçamento de Estado, é opinião corrente dos especialistas que estas são inconstitucionais.
O confisco dos subsídios de Férias e de Natal é um exemplo. O facto desse
confisco ser discriminatório, não tendo aplicação universal, é outro exemplo. Como
a Constituição se presta a várias interpretações bastou invocar uma situação de
emergência para a "atropelar". Mas foi declarado formalmente o Estado
de Emergência? Ou será que agora já basta mencioná-lo? Quanto a esse embuste
que dá pelo nome de Tribunal Constitucional se pronunciar sobre esta matéria,
resta dizer que sendo este de cariz político, qualquer que seja a sua decisão
nunca será levado a sério. O TC deveria ser integrado no Supremo Tribunal de
Justiça onde aí já existem juízes a sério quanto mais não seja por forma a tentar
garantir uma maior isenção face ao poder político.
Fala-se
muito em ideologia, em esquerda e direita, como se realmente houvesse grandes
diferenças entre os partidos do situacionismo. Basta ver a facilidade com que
se põem de acordo no que toca ao financiamento partidário ou às férias no
Parlamento. Sempre que são juízes em causa própria a unanimidade é total. Mas
não é só isto que os une. A captura dos partidos por certos grupos de
interesse, vulgo lóbis, é que é preocupante. Aqui destaco o poder financeiro e
o poder das Sociedades Secretas. Começa-se a perceber agora que existem
entidades suprapartidárias, não escrutinadas democraticamente, comuns a todos
os partidos ainda que com maior ou menor incidência nuns e noutros. Os partidos
são meros “ramos” de um mesmo “tronco”. Basta ver o que têm em comum os actuais
líderes parlamentares dos partidos do arco governativo. Estas situações podem gerar um claro
conflito de interesses pois certos políticos ao jurarem obediência às Sociedades Secretas de que fazem parte comprometem o seu dever de isenção e zelo na defesa do interesse público. É esta
promiscuidade entre o poder político e esses poderes não escrutinados que
enfraquece ainda mais esta pseudo-democracia. Isto acaba por gerar Governos
fracos, que apesar da sua legitimidade, nunca ousam enfrentar esses poderes. Como se já não bastassem as clientelas internas.
Ora,
justamente na situação actual é que se justificava um Governo forte e corajoso.
Mas não, mais uma vez se viu que o Governo continua a ser forte com os fracos e
fraco com os fortes. Foi lesto a aumentar impostos e a cortar subsídios aos
pensionistas e funcionários públicos. Mas quanto a mexer nos interesses dos
oligopólios como é o caso das rendas excessivas do sector da Energia e das PPP,
já não mostra tamanha prontidão. No caso da Energia o que foi agora anunciado fica
muito aquém do que seria desejável. É mais para Troika ver até porque se trata
de matéria que está no programa assinado com esta, tal como está a redução de
municípios e de freguesias. Mas até aí só se avança contra os mais fracos como
as freguesias. Quando se trata de mexer com o lóbi autárquico, aqui d´el rei
que aí ninguém mexe. Há que manter o Clientelismo Partidário. Curiosamente
evoca-se a “blindagem” dos contratos das PPP como se estes fossem “vacas
sagradas” para justificar o atraso nessa renegociação. Esta só é rápida quando
é ruinosa para o Estado como o foi em 2009 para a introdução de portagens nas
SCUT do Norte, conforme se pode ver no gráfico em baixo. Aparentemente já não
bastava o total de 48 mil milhões de € de encargos, tendo-se acrescentado,
salvo erro, mais 12 mil milhões de €.
Encargos anuais com as PPP a preços correntes para o período 2008-2038 Fontes: Relatórios dos OE 2005, OE 2006, OE 2007, OE 2008 e OE 2009 |
Aqui, contrariamente à Constituição,
já não parece existir uma situação de emergência para denunciar contratos cuja
opacidade é de tal ordem que ninguém os conhece verdadeiramente, principalmente
os seus anexos e adendas. Apenas se sabe que vigorarão até 2038 com encargos brutais
para as próximas gerações. É este o legado que vamos deixar aos nossos filhos?
Acha bem que crianças que hoje estão a nascer já tenham uma dívida para pagar
da qual não tiveram a mínima responsabilidade?
Uma
dívida pública acima de 60% do PIB por si só já é insustentável e implica a condenação de um
povo a um regime de escravidão e à espoliação dos seus mais elementares
direitos. Ora a “nossa” está já muito acima desse limite. Por tudo isto o
leitor não deverá hesitar na decisão que garantirá um futuro melhor para os
seus filhos. Nem que para isso se tenha de ser apátrida.
A diferença entre um político e um estadista é que o primeiro governa a pensar nas próximas eleições e o segundo fá-lo a pensar nas próximas gerações. O pior é que nós nem políticos temos porque os últimos ao pensarem nas próximas eleições deram cabo das próximas gerações. Por isso é que este país não sai da cepa torta.
ResponderEliminarNão consigo perceber como é que um governo eleito para 4 anos pode tomar decisoes (infelizmente ruinosas) que afetam muitas pessoas e condicionam até os futuros governos nos proximos 30 ou 40 anos!!! No minimo essas decisoes deviam ter um amplo apoio como acontece nas revisoes da Constituicao. O pior é que nao há consequencias criminais para quem toma essas decisoes. Ninguem estranha porque essas decisoes foram tomadas da forma como o foram. Será que foi só incompetencia? Ou há algo mais? Será normal que alguem que sempre viveu da politica e que declarou apenas esses rendimentos possa estar a viver à grande e à francesa no estrangeiro? De onde vem subitamente o dinheiro? Ninguem investiga? Já era de o fazer quando ainda em funçoes ia à famosa Rodeo Drive de Beverly Hills fazer compras no Bijan, a loja mais cara do Mundo!!! E o Burro sou eu...
EliminarO problema esta' no seguinte: As decisoes dos politicos nunca foram sancionados, politicamente e judicialmente, quanto a esta, prenhas de intencao dolosa comprovada, porque so' existem duas situacoes, incompetencia ou criminosa, a primeira, cabe aos votantes, veja-se Isaltino de Morais , na condicao de condenado e' reeleito, quanto aos outros, fizeram leis que os protege.So' um exemplo; O antigo governador do Banco de Portugal, do (grupo PS) foi o resposavel numero um, pela falta de controlo, dos bancos, se fosse funcionario de uma empresa privada, seria no minimo despedido por justa causa (incompetencia) e a' "La long", teria de responder criminalmente, todavia , consegue no fim de tudo, ser premiado com o cargo de numero 2 do BCE
EliminarComo diria Mao Tse tung "cada povo tem o presidente que merece"
Os PIGS da Europa têm muita coisa em comum alem da localização geografica. Têm uma elevada economia paralela, uma elevada evasão fiscal e acima de tudo uma elevada corrupção. E no caso portugues esses piratas da era moderna tiveram o desplante de legitimar o saque e a pilhagem dos dinheiros publicos por largos e bons anos naquilo a que se chamam PPP. Nem sequer têm vergonha na cara e é por isso que tambem concordo que Portugal está condenado.
ResponderEliminarParabéns pelo blog, um bom serviço cívico de puro altruísmo. A divulgação será uma das mais eficazes formas de reagir ao que se está a passar, acabar com a ignorância que se ensina nas escolas.
ResponderEliminarCada vez mais se ensina o cidadão a desligar-se da politica e das coisas importantes da vida...
O seu blog, traz à tona coisas importantes que os políticos teimam em não ensinar a ninguém.
Parabéns pela clarividência política.
ResponderEliminarPermita-me que lhe sugira um combate cívico pela inclusão de aulas de política, obrigatórias, para jovens com idades a partir dos 13 anos.
No meu entender, apenas com uma revolução cultural, que traga plena participação dos cidadãos na política, a Democracia será digna da imagem que, hoje, dela temos.
PArabéns pela lucidez e clarividência na sua análise! Em meia dúzia de parágrafos consegue fazer um resumo dos maiores problemas deste nosso regime democrático, que infelizmente parece que muita gente não consegue perceber. Falta apenas referir um que, na minha opinião, é o maior cancro deste país, e que permite o progressão de todos os outros: A nossa triste, disfuncional e negligente Justiça.
ResponderEliminarParabéns pelo texto, está muito bem escrito. Apenas acrescentava um parágrafo e como tudo isto é possível graças às ligações a certos actores no meio judicial. Quando o Juiz não faz parte do grupo e não alinha é incomodado até mais não, e até me lembro de uma certa juíza que foi acusada de problemas mentais..
ResponderEliminarAgora falta falarmos da solução, porque o problema foi excelentemente aqui diagnoticado.
Aqui fala-se no peso das sociedades secretas na política mas eu até digo mais: a maçonaria é um instrumento de corrupção, que dilui a separação de poderes (que já por si é deficiente, ver até virtualmente inexistente), promovendo a promiscuidade entre os ricos e poderosos. A existência de sociedades como a maçonaria explica em grande parte a razão pela promiscuidade entre políticos com visibilidade, sendo que grande parte da classe política em Portugal é de facto uma grande teia cujas ligações superam divisões partidárias; por detrás da fachada que é a falsa discórdia teatral a que assistimos na assembleia todos os dias, estão plataformas como, mas não só, a maçonaria que permitem coordenação e concertação entre os ricos e poderosos. É igualmente uma pirâmide de controle por ser uma sociedade esotérica (ou seja, é uma organização altamente hierarquizada, onde a progressão se efetua por graus [ou degraus] supostamente pré-definidos). Podemos dizer que a maçonaria é de certa forma uma estrutura militarizada que por definição instrumentaliza os que ocupam os graus inferiores para beneficio dos que ocupam os graus superiores, em detrimento dos ‘profanos’, os ‘goyim’ (gado), ou seja, nós, 99.9% da população. A maçonaria é igualmente utilizada por outras sociedades, como os infames Jesuítas e a Sociedade Teosófica para recrutar membros e atingir os seus fins. A maçonaria é a menos secreta de todas as sociedades secretas, e por esta razão é particularmente susceptível a ser infiltrada e utilizada por terceiros.
ResponderEliminarhttp://casadasaranhas.wordpress.com/2012/07/19/a-maconaria-em-portugal-uma-historia-de-corrupcao-e-conspiracao/
A Maçonaria em Portugal é uma associação de malfeitores, um verdadeiro antro de corrupção, compadrio e tráfico de influências. É utilizada como uma catapulta para chegar a cargos de poder. Estão lá os piores dos piores e como se não bastasse muitos são pedófilos mas nada temem pois estão devidamente "protegidos". Esta corja é talvez a principal responsável pelo saque e pilhagem de Portugal e pela desgraça e miséria dos dias de hoje. São como térmitas! Infiltram-se em todo o lado: política, justiça, sistema financeiro, e sobretudo, serviços secretos.
Eliminara politica serve para três coisa:proteger os amigos,castigar os inimigos e fazer leis para os idiferentes.parabens pelo artigo
ResponderEliminarExcelente sala de confronto de ideias. Conheci-o agora por via dum comentário no DN, sobre o encontro Seguro/PPC. Voltarei mais vezes e darei o meu modestíssimo contributo.
ResponderEliminarNa verdade, não estamos num regime democrático, nem partidocrático. O que se vive agora é um regime corporocrático. Uma nova forma de imperialismo, sem imperador. Os principais culpados de tudo o que se vive são as grandes corporações, que usam FMI, BM e outros quejandos como armas de assalto para exercerem o seu poder. Tudo o mais é circo para entreter as pessoas e não as deixarem aperceberem-se do que realmente se passa.
ResponderEliminarEXCELENTE TEXTO, PERFEITAMENTE ACTUAL EM 2021.
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