Certamente
já ouviu falar nos Mercados. Recentemente, o Ministro das Finanças definiu
Setembro de 2013 como a altura do regresso aos Mercados. Mas quem são então os
Mercados? Onde estão? Para que servem? Como funcionam?
A
dívida pública é a base do sistema monetarista em que assenta o capitalismo. A FED
(Reserva Federal Americana) e a sua política de reservas fraccionadas é a
principal responsável pela existência de dívida. Basicamente começou-se a criar
dívida a partir do… nada! O que está subjacente à criação da FED é tema que
daria “pano para mangas”. O anterior PM referiu as dívidas como eternas.
Segundo ele, estas não são para pagar mas sim para gerir. Isto é verdade dentro
de certos limites até porque praticamente todos os países têm dívida pública, mesmo
os mais ricos. A questão é que quando se ultrapassam esses limites (normalmente
acima de 60% do PIB) essa gestão torna-se inviável. Entra-se numa situação em
que só se consegue satisfazer o serviço da dívida contraindo ainda mais dívida.
E assim entra-se numa espiral que aniquila qualquer crescimento económico,
induzindo recessão e consequentemente mais desemprego e miséria por largos e
vários anos. O país contrai dívida para… empobrecer! Esta é a razão pela qual
Portugal não conseguirá regressar aos Mercados em 2013. Estes, cientes dessa
realidade, não acreditam que o país tenha crescimento económico suficiente para
cumprir com as suas obrigações. O pior é que a dívida externa de Portugal não
se resume só à parte pública. Se lhe somarmos a parte privada esta então é das
maiores do Mundo. Não há economia que resista a isso até porque há limites para
a própria austeridade.
Então
para que serve esta austeridade? Para que Portugal possa continuar a sua
escalada de endividamento? A resposta é simples: Portugal na altura em que
solicitou ajuda à Troika não dispunha de qualquer outra alternativa. Entretanto
o que irá suceder nos próximos tempos será algo do género: Antes de
Setembro de 2013 Portugal vai negociar um novo resgate senão entrará em
incumprimento. Em paralelo ou quiçá um pouco mais tarde, à semelhança do que
aconteceu na Grécia, terá de haver uma renegociação da dívida que passará por
um perdão parcial desta na ordem dos 50% (o chamado “hair-cut” correspondente à
dívida que poderá ser classificada de odiosa), por um alargamento dos prazos de
pagamento e pela descida das taxas de juro da dívida remanescente. Só assim é
que Portugal se tornará viável dentro do Euro. A vantagem é que com isto
Portugal será “obrigado”, por muito que isso custe à classe política, a
efectuar todas as reformas estruturais de que carece. Para o bem ou para o mal,
Portugal terá de passar a viver apenas de acordo com as suas possibilidades
porque dificilmente, tal como a Grécia, terá condições para voltar aos
Mercados em condições vantajosas, especialmente nas obrigações a 10 anos.
Os
Mercados são todas as entidades que negoceiam no sistema financeiro e no
mercado de capitais, sejam estas Bancos, Fundos Soberanos ou de Investimento e
até investidores particulares. Os juros da dívida pública de um país são tanto
mais altos quanto o seu risco de incumprimento (default). Mas por vezes esse
risco é de tal ordem elevado que nem a ganância dos Mercados está disposta a
correr. Excepto em certas situações nas quais algumas dessas entidades que
compõem os Mercados se sentem “protegidas”. Estas ao verem que são “imunes” ao
risco, graças ao caso BPN, passaram a ser destemidas para não dizer
irresponsáveis na sua gula pelo lucro fácil. Os famigerados e malvados Mercados
no caso grego incluem a banca… portuguesa! Segundo os dados da imprensa económica,
em termos de peso no PIB, o sistema financeiro português é recordista em
exposição à dívida grega – sete mil milhões de euros ou 4,2% do PIB (em segundo
lugar nesta escala está a França com 2,1% do PIB (Francês) com 40 mil milhões
de euros).
Já
ouviu falar num esquema Ponzi mais conhecido por esquema em pirâmide? Um
esquema Ponzi é uma operação fraudulenta de investimento que
envolve o pagamento de altos rendimentos aos
investidores à custa do dinheiro pago pelos investidores que chegarem
posteriormente, em vez da receita gerada por qualquer negócio real. O nome do
esquema refere-se ao criminoso financeiro italo-americano Charles Ponzi (ou
Carlo Ponzi).
Mas
o que é que isso tem a ver com a nossa situação? Bem, qualquer crise tem a sua
origem. O facto de muitos países terem ultrapassado o seu limite razoável de
endividamento não aconteceu por acaso. O que aconteceu? Numa palavra: subprime. Consiste no crédito
hipotecário concedido em condições de risco muito elevado, maximizado,
multiplicado por mil e uma bolhas de especulação. Começou nos Estados Unidos em
2003, levou a uma espectacular subida do preço das casas e foi até 2006,
viajando numa tão intensa velocidade de novas e tão complexas aplicações
financeiras que só mesmo os grandes especialistas as entendiam - com os
reguladores atrás, muito atrás dessa “inovação” financeira. Com essa expansão
global, e o seu excesso, percebeu-se que tudo estava assente numa coisa que não
existia: o dinheiro não existia; o hipotecado não tinha dinheiro para pagar a
hipoteca. A partir daí a enorme “bolha” rebentou e gerou-se um efeito dominó sobre a
depreciação do valor das casas.
Mas
como é que tudo isto é global? Como é possível que o gesto de permitir o acesso
a habitação a quem, noutras condições, nunca poderia ter casa própria se pode transformar
neste monstro total? Foi um
brasileiro, autor anónimo, a encontrar a melhor das explicações, num exemplo
prosaico de linguagem rasa, recta e real. A história chama-se "O Boteco do
Seu Biu" e reza assim:
"O Seu Biu
tem um bar, na Vila Carrapato, e decide que vai vender cachaça fiada aos seus
leais fregueses, todos bêbados, quase todos desempregados. Porque decide vender
fiado, pode aumentar um pouquinho o preço da dose da branquinha (a diferença é
o valor extra que os clientes pagam pelo crédito).
O gerente do
banco do Seu Biu, um ousado administrador, decide que as cadernetas de calotes
do bar constituem, afinal, um activo recebível, e começa a adiantar dinheiro ao
estabelecimento, tendo o fiado dos bêbados sempre como garantia.
Uns seis
executivos de bancos, mais adiante, lastreiam os tais recebíveis do banco, e
transformam-nos em CDB, CDO, CCD, UTI, OVNI, SOS ou qualquer outro acrónimo
financeiro que ninguém sabe exactamente o que quer dizer.
Esses adicionais
instrumentos financeiros, alavancam o mercado de capitais e conduzem a
operações estruturadas de derivativos, na BM&F (Bolsa de Mercadorias &
Futuros), cujo lastro inicial todo mundo desconhece (as tais cadernetas de
calotes dos clientes do Seu Biu). Esses derivativos são negociados como se
fossem títulos sérios, com fortes garantias reais, nos mercados de 73 países.
Até que alguém
descobre o inevitável: que a garrafa tem fundo e que os bêbados da Vila
Carrapato não têm dinheiro para pagar as contas.
A descoberta do
vazio arrasta consigo os mercados de 73 países, a bolsa de mercados e futuros,
todos os bancos, o ousado administrador e o pobre do Seu Biu, o primeiro a ir à
falência".
Conclusão
brasileira de humor crocante: "O que aconteceu? Toda a cadeia se f…".
Nada
melhor para encerrar este tema dos Mercados do que um vídeo em que 2 humoristas
britânicos explicam como estes funcionam com o bom humor que os caracteriza.
Parabéns pelo blog, muito agradável de se visitar, muito arrumadinho e de conteúdo interessante. Gostei e recomendo.
ResponderEliminarÉ sempre fácil culpar os mercados e as agências de rating quando no fundo isto só acontece porque os países entre os quais Portugal é que se puseram a jeito. Aqueles que especulam na desgraça dos outros fazem-no porque sabem onde estão as fraquezas. E estas derivam da incompetência e da corrupção dos politicos. Quando se esbanjam dinheiros publicos e se endivida um pais naturalmente fica-se à mercê desses famigerados fundos especuladores.Certas pessoas em vez de apontarem o dedo aos mercados deviam antes ver-se ao espelho.Depois deviam cobrir-se com o manto da Vergonha já que ninguem as prende por todas as malfeitorias que fizeram a Portugal.
ResponderEliminarGostei e concordo plenamente com o artigo, embora ja' tivesse interiorizado o pensamento, faltou apenas dizer o seguinte: Anteriormente a 2002 havia e continua a haver uma regra sagrada nas hipotecas; 1-O hipotecado tera' de possuir 20% para pagamento inicial 2-Provar poder pagar o remanescente que sera' dividido pelos anos do emprestimo. 3-A avalicao tera' de ser feita por um profissional de idoineidade reconhecida, nomeado pelo banco. Tanto a FED-EUA, como o Banco de Portugal ignoraram estas normas basicas e legais, a fim de fazerem subir a economia que se adivinhava problematica, sendo que, no caso americano, comecou em meados dos anos 90 no tempo de Bill Clinton. Justica seja feita ao Canada que nao seguiu o mesmo caminho, pelo contrario, reforcou ainda mais as exigencias e ri-se agora do desmando do seu vizinho, seguindo paulatinamente com o seu brutal crescimento economico sustentado, em vez de encontrar a bracos para resolver financiamentos criminosos.
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